segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Da razão de ser desta «Web Academia Interuniversitária»





Face ao sombrio panorama e ao desequilibrado dinamismo gerado pelo fascínio do poder e da mítica eficácia dos usos e aplicações (tantas vezes «selvagens»...) da Ciência, da Técnica e da Tecnologia, sob o comando parasitário dos altos interesses de natureza meramente economicista, mas com directa repercussão destrutiva e desorganizadora nos ecossistemas da natureza e nos sistemas e diassistemas sociais e culturais, a pilotagem estratégica da vida em geral e da vida em sociedade em particular tem de voltar a fazer-se, a meu ver, sob o signo de Homero, Educador da Grécia e Educador do Mundo, e ao som da lira dos Poetas, o mesmo é dizer, sob o energizante influxo da Poesia, essa fabulosa «música do pensamento», na expressão lapidar e sábia de George Steiner...
Na verdade, sempre que a cultura, a sensibilidade, a imaginação e a criação poéticas (l.s.) estiveram adormecidas ou anestesiadas, andaram arredias ou foram escorraçadas da Cidade, as superadoras saídas para os fundamentais problemas do homem e da humanidade ficaram irremediavelmente comprometidas…
Por isso é que, tal como nas problemáticas da superação dos saberes instituídos já obsoletos e caducos (ou mesmo daqueles saberes que, tantas vezes ilusoriamente, se consideram ainda válidos ou inquestionáveis...) bem como das verdades dogmatizadas e já cristalizadas se não pode dispensar a postura bachelardiana da «filosofia do não» no alternativo desencadear das dinâmicas da criação e da inovação científica, conducentes à formulação de novos problemas e de novas conjecturas e à instituição de novos saberes, de novas verdades consistentemente testadas e validadas e de novos paradigmas, assim também, na análise e ponderação das patologias do social, se torna imperioso o assumir, com Adorno, da atitude dialéctica da negação, seja através da resistência, da recusa e da indignação, seja através da denúncia frontal, por forma a daí poder decorrer o revitalizador surgimento e desenvolvimento de uma Física Quálica do Humano, de uma Antropopaideia qualitativa que potencie uma nova Ars Gubernatoria ou Arte da Timonagem (em grego: ≤ kubernhtikÆ t°xnh [e kybernetike techne]) ao serviço dessa náutica maior que é a condução ético-política dos destinos da Terra e das comunidades que a povoam e, assim, de um PROJECTO DE CIDADANIA LOCAL, REGIONAL, NACIONAL E PLANETÁRIA, a ser concebido, planeado e realizado orquestralmente por todos, no respeito pelas singularidades e com a consagração paritária e polifónica do pluralismo, a inclusão da diversidade e a integração da multiculturalidade, e vivificado pela criatividade, pela inventiva, pela inovação e pela articulação pléctica, mestiçada e de sentido holístico dos diferentes saberes...
Num tal horizonte e perspectiva e porque a navegação é agora a dos mares da informação, do conhecimento, do saber e da sabedoria, seja-me permitido abrir, aqui, um parêntesis para revelar que essa vai ser a missão estratégica da futura ACADEMIA INTERUNIVERSITÁRIA – HENRIQUE, O NAVEGADOR (instituição autónoma, a ser criada e sedeada nesta cada vez mais bela cidade Viseu, berço simbólico da «Ínclita Geração... Altos Infantes» [Camões: Lus., IV, 50]...), e erigida e desenvolvida a partir de seus dois pilares alicerçantes, em constante interacção e implicação dialéctico-dialógica: o CENTRO VÍTOR AGUIAR E SILVA para a Área das Humanidades, das Belas Letras e das Belas Artes e o CENTRO JOSÉ DIOGO MENDES VEZINHO para a Área da Ciência, da Técnica e da Tecnologia.
Essa Academia mover-se-á por uma das mais sedutoras e irradiantes utopias: vir a constituir-se, neste centro-interior de Portugal, numa das instâncias criativas e propulsoras da esperançosa CIDADE PLANETÁRIA DOS POETAS (lato sensu), DOS CIENTISTAS E DOS SÁBIOS, sonho, afinal, de todos quantos vêm desenvolvendo em si os potenciais maiores daquele imaginar que é capaz de gerar tudo o que de mais humano e divino houver para a inadiável humanização modeladora do homem-cidadão do mundo inteiro, em suma, para a gestação de um «homem novo», sem o qual, pouco ou nada adianta falar de «novas políticas» ou de «outra política»...


Fernando Paulo Baptista

1 comentário:

  1. A Silvana é poeticamente generosa e propulsora de empatia. Vou acompanhá-la nos seus inspiradores escritos «florais» (silvana, silvestre, silva, selva: ai o nosso fabuloso e lexicogénico latim!...), com o desejo forte de que os seus olhos recuperem toda a energia visualizadora... Um beijinho de imensa ternura. Fernando

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