quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A IDEIA-MATER DE «UNIVERSIDADE»...

A ideia de «universidade» configura-se e consubstancia-se historicamente (logo lá bem desde a sua aurora eclesial e medieva, sob a designação de Studium Generale...) naquele singular tipo de instituição protagonizadora de um inesgotável «projecto académico» direccionado para o «semafórico» valor da excelência sapiencial (lato sensu), mediatizado pelas funções cardinais que lhe têm sido cometidas: formar, investigar, dinamizar... Tudo isso, condensado, ao longo da sua existência multissecular, na semântica mais funda e mais densa dessa palavra mágica e sacral: «universidade»!
É assim que não deve ser o percuciente e arrastado fenómeno de uma crise a três dimensões — crise de hegemonia, crise de legitimidade e crise institucional, no lúcido e fundamentado diagnóstico de Boaventura de Sousa Santos (em Pela Mão de Alice. O Social e o Político na Pós-Modernidade, Lisboa, Edições Afrontamento, 1994, p. 163 e ss) — que pode, a meu ver, pôr em causa as razões matriciais em que, por definição, assenta ou deve assentar a superior «missão» de uma Universidade, entendida como A PRIVILEGIADA INSTÂNCIA DA BUSCA, DA INVENÇÃO E DA CRIAÇÃO DO SABER E DA SUA APRENDIZAGEM E DIVULGAÇÃO PRIMORDIAIS, como «o memorial do mais alto conhecimento ou reflexão», nas palavras de Eduardo Lourenço (em Nós e a Europa ou as duas razões, Lisboa, IN-CM, 1988, pág. 73), como o determinante lugar onde, na perspectiva de Karl Jaspers (em The Idea of the University, London, Peter Owen, 1965, pp. 19, 51 e ss), cada época histórica «pode cultivar a mais lúcida consciência de si própria» e constituir o inderrogável e estratégico centro e «laboratório» de criação da Alta Cultura e dos mais experimentados, testados, reflectidos, elaborados e convalidados conhecimentos e saberes que conformam o vasto e complexo território da Ciência. Ora essa Cultura e essa Ciência são imprescindíveis para dar resposta capaz aos desafios de desenvolvimento e de progresso e à formação integral dos nossos quadros superiores.
Em suma, a Universidade constitui o referencial histórico e o paradigma axiológico, à luz dos quais se desenham os traços porventura mais nobres, mais densos e mais fortes da nossa identidade de Povo e de País, configurando-se incontornavelmente como A VERDADEIRA ALMA E CORAÇÃO DA CIDADE.
Por tudo isso é que, em relação a ela, de seus Professores e de seus Estudantes, outra atitude não será de esperar senão a da mais exigente, devotada e exemplar dedicação na forma de estudo (em latim: studium) diligente e quotidiano, que é o «modo» académico mais genuíno, mais elevado e mais digno de, simbolicamente, conjugar o verbo «amar»: no fundo, o inconformado e superior modo que deflui dessa insaciável, curiosa e iluminante paixão pela busca, pela investigação, pela descoberta, pela sabedoria...



Fernando Paulo

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